Quando pensamos em comunidades imigrantes em Portugal lembramo-nos imediatamente da comunidade brasileira em Portugal, por estarmos tão habituados à sua presença. Mas a verdade é que esta tem mudado de perfil com o passar dos anos. Damos-lhe a conhecer a comunidade brasileira em Portugal, dos dias de hoje.
As mudanças da comunidade brasileira em Portugal
A primeira grande vaga migratória manifestou-se por volta dos anos 80/90 do século passado, mas o perfil de quem chega do Brasil para residir em Portugal mudou muito ao longo dos tempos. A partir de 2014/2015, já são perfis muito mais qualificados, afirma Cyntia de Paula, presidente da Casa do Brasil de Lisboa, correspondendo a “pessoas com licenciaturas e mestrados ou mesmo estudantes”.
Enquanto que, até aqui, a comunidade brasileira se empregava em Portugal essencialmente nos setores de serviços, da construção civil e noutras áreas semelhantes, por falta de formação, atualmente assistimos a uma “migração qualificada, mas que depois muitas vezes não encontra colocação, como é o caso de profissionais de saúde, de tecnologias de informação, de jornalistas, psicólogos e engenheiros, por exemplo, que depois, de um modo geral, acabam por inserir-se nos setores dos serviços, dos cuidados aos idosos, na restauração e na construção civil”. Por isso, acrescenta Cyntia de Paula, pode dizer-se que “a formação profissional de quem chega nem sempre corresponde às vagas que se encontram por preencher ou onde estas pessoas acabam por se inserir.”
Quantos brasileiros vivem em Portugal?
Em Portugal, segundo os dados fornecidos pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) relativos a 2019, residem 151.304 brasileiros, se contarmos com as autorizações de residência. Porém, esse número duplica se, conforme refere a Casa do Brasil de Lisboa, incluirmos aqueles que têm dupla nacionalidade, os que se encontram em fase de regularização e os que não conseguiram obter esta autorização de residência, dos quais 60% pertencem ao sexo feminino.
A trabalhar, de acordo com dados de 2019 fornecidos pelo SEF, conta-se cerca de 19% da população inicialmente indicada, o que equivale apenas aos dados obtidos através do número de emissão de títulos de residência para desempenho de uma atividade profissional. Não estão, portanto, contemplados aqueles que detêm outro tipo de título e que, naturalmente, poderão desempenhar também funções profissionais, ainda que não tenha sido originalmente por esta razão que obtiveram a sua entrada em Portugal.
O perfil da comunidade brasileira em Portugal
Embora seja residual o número de grandes empresários que tenham vindo para Portugal realizar investimentos, há pequenos empreendedores que vêm para apostar em áreas como o turismo e os serviços, “e que agora [2021], devido à pandemia, se encontram bastante aflitos, dada a perda de rendimentos, desde os grandes investidores aos pequenos independentes.”
Onde vive a comunidade brasileira em Portugal
A comunidade brasileira em Portugal começou por concentrar-se em Lisboa e nos arredores, representando esta cidade ainda o ponto onde a comunidade é mais visível, com 60.469 indivíduos, de acordo com a estimativa do SEF para 2019. A seguir à capital, a cidade mais procurada é o Porto, com 19.761 pessoas, Setúbal (16.424), Faro (13.631) e Braga (9.295).
Cyntia de Paula explica a deslocação dos cidadãos brasileiros para Setúbal e Palmela como uma resposta aos elevados valores de arrendamento praticados nas grandes cidades e adianta também que, mais recentemente, é notória a presença da comunidade brasileira em Portugal em concelhos como Sintra e Cascais e até em Aveiro e Braga.
Porque é que Portugal é um ponto de interesse para o Brasil?
Um dos fatores que mais traz os cidadãos brasileiros a Portugal é, de acordo com a presidente da Casa do Brasil de Lisboa, a procura de uma vida mais tranquila. “Desde os anos 80/90 que a migração de brasileiros para Portugal é bastante expressiva e neste aspeto as políticas migratórias portuguesas desempenham um papel muito importante. Sabemos que, desde que se entregam os documentos para pedir a regularização, podemos ter de aguardar dois, três, por vezes quatro anos, mas sabemos que, se fizermos o nosso papel, acabamos por conseguir obter a autorização de residência.”
A ideia de haver uma cultura comum e uma língua que é próxima são fatores de atração. Também o ensino é um fator determinante. “Podemos dizer que 20 a 30% dos estudantes chegam do Brasil e vêm investir em Portugal através do pagamento de propinas escolares para realizarem os seus estudos na Europa.”
Em larga medida, Portugal parece representar também um lugar de continuidade de vida para a comunidade brasileira em Portugal. “Chegam agora muitas pessoas já com 35, 40 anos, que vêm com as suas famílias. São profissionais qualificados e muito informados que procuram uma melhor qualidade de vida, algo mais tranquilo do que tinham no Brasil. São pessoas que visitaram o país, que vieram de férias e que decidiram ficar, tal como acontece com os estudantes, que muitas vezes preferem permanecer entre nós após concluírem os estudos.”
Os incentivos destinados às faixas etárias mais elevadas representam, igualmente, um forte atrativo. “Já em idade de reforma, muitos brasileiros vêm fazer férias a Portugal e decidem ficar, muitas vezes aproveitando o melhor de cá e o melhor do Brasil. No nosso verão ficam em Portugal e depois rumam ao Brasil para desfrutar da estação quente no seu país de origem.”
O interesse que a comunidade brasileira tem por Portugal já não é de hoje. “Há cerca de 30 anos que Portugal é um lugar que interessa aos brasileiros e julgo que continuará a ser. Há, de facto, a ideia de que pode ser um país acolhedor, embora haja ainda muitos preconceitos e estereótipos, especialmente em relação às mulheres, mas o balanço acaba por ser positivo.
É verdade que a comunidade brasileira em Portugal inicialmente tende a conviver mais com os próprios brasileiros e com outros estrangeiros do que com os portugueses em virtude dos preconceitos que ainda existem, mas com os anos acaba por estabelecer relações mais fortes com os portugueses. O clima também é muito apetecível, o acesso à cultura é muito democrático e a verdade é que, para quem fica, a balança acaba por ser francamente positiva.”
Para mais informações:
Serviço de Estrangeiros e Fronteiras
Tel: +351 808 202 653/ +351 808 962 690
Email: gricrp.cc@sef.pt
Site: www.sef.pt
Casa do Brasil de Lisboa
Tel: +351 213 400 000 / +351 935 141 813
Email: direcao@casadobrasildelisboa.pt
Site: www.casadobrasildelisboa.pt
Consulado Geral do Brasil em Lisboa
Tel: +351 211 358 587
Email: cg.lisboa@itamaraty.gov.br
Site: http://cglisboa.itamaraty.gov.br/pt-br/
